Do modelo tradicional aos novos horizontes do treinamento
A periodização do treinamento oferece uma estruturação e um planejamento para a prática esportiva objetivando o aumento de desempenho dos atletas, independentemente de ser profissional. É descrito como um sequenciamento intencional para o treinamento de diferentes unidades (longa duração, média duração, ciclos de curta duração e sessões) com o objetivo dos atletas alcançarem o estado desejado e os resultados planejados (ISSURIN, 2010). Além disso, um bom planejamento busca evitar lesões, períodos de fadiga extrema e principalmente, o temido overtraining.
Modelo Tradicional de Periodização
Foi estabelecido na década de 1960 com as experiências realizadas com os atletas da ex-URSS e com base nas pesquisas fisiológicas publicadas por cientistas soviéticos da época, o qual denotou um grande avanço no esporte de alto rendimento.
Este modelo teve como pressuposto desenvolver de maneira simultânea muitas habilidades, ou seja, uma formação “completa” dividida em períodos de preparação geral (períodos longos) e períodos de preparação mais especifica/competitivos. Porém, estes períodos de modo geral são muito longos. Na sua concepção, o modelo tradicional era orientado para os atletas alcançarem um pico de rendimento no ano. Com o crescimento das instalações esportivas, este modelo passou por algumas adaptações para atender a necessidade dos atletas alcançarem dois picos no ano e, posteriormente três picos de desempenho no ano.
Algumas limitações deste modelo são:
- Fornecimento de energia: falta de fornecimento de energia suficiente para o desempenho simultâneo de cargas de trabalho diversificadas;
- Adaptação celular: consequências do treinamento como biogênese mitocondrial, síntese de proteínas miofibrilas e síntese de enzimas anaeróbias pressupõem vias separadas de adaptação biológica;
- Recuperação pós-exercício: diferentes sistemas fisiológicos requerem diferentes períodos de recuperação, os atletas não obtêm restauração suficiente;
- Compatibilidade de várias cargas de trabalho: exercícios combinando várias modalidades muitas vezes interagem negativamente devido ao déficit de energia, complexidade técnica e/ou fadiga neuromuscular;
- Concentração mental: desempenho de cargas de trabalho forçado exige altos níveis de concentração mental que não podem ser direcionados a muitos alvos simultaneamente;
- Suficiência de estímulos de treinamento para o progresso: o progresso específico do esporte de atletas de alto nível exige grandes quantidades de estímulos de treinamento que não podem ser obtidos por treinamento simultâneo para muitos alvos;
- Atividade competitiva: incapacidade de fornecer uma preparação de múltiplos picos e desempenhos bem sucedidos durante todo o ciclo anual;
Obviamente, estas limitações diminuem a qualidade de formação do atleta, principalmente atletas de alto rendimento. Até mesmo o modelo de 3-picos não satisfaz a tendência atual do esporte para as competições ao longo do ano.
Portanto, este modelo apesar de ainda bastante utilizado, apresenta limitações para o atual modelo competitivo onde o atleta necessita ter vários picos de desempenho no ano.
O Modelo de Periodização em Bloco
Uma série de fatores têm levado pesquisadores e treinadores a buscar alternativas ao modelo tradicional de treinamento, ocasionando um grande avanço nas metodologias de treinamento. Maiores detalhes sobre modelos alternativos de treinamento podem ser encontrados no trabalho de Issurin (2010).
O termo treinamento em bloco popularizou-se no início dos anos 1980, e desde então é bastante utilizado por muitos treinadores de alta performance. Consiste basicamente de um ciclo de treinamento com cargas específicas de trabalho, altamente concentrado e direcionado a um número mínimo de capacidades.
A duração de um bloco varia entre 2 e 4 semanas, o que permite adaptações bioquímicas desejadas, alterações morfológicas e coordenativas sem que ocorra um acúmulo excessivo de fadiga. A união de blocos constitui uma etapa importante do treinamento e realizados em uma sequência correta é benéfico para o desempenho esportivo, isto é, a obtenção do pico de performance.
A formação mista, isto é, de múltiplas capacidades (típico do modelo tradicional) provoca um aumento das habilidades básicas durante o período preparatório seguido de um declínio dessas capacidades durante o período competitivo, enquanto que as habilidades específicas são praticamente suprimidas em um período preparatório prolongado e aumentam durante o período competitivo. A periodização em bloco, através de seu sistema multi-picos, permite que os atletas mantenham ambas as habilidades (básicas e específicas) em um intervalo relativamente curto durante a temporada inteira.
Princípios Básicos da Periodização de Treinamento em Bloco
O treinamento em bloco exige uma alta concentração de cargas de trabalho de treinamento dentro de um determinado bloco, de maneira a proporcionar estimulação suficiente no treinamento para atletas de alta performance. Deve-se minimizar o número de alvos a serem treinados em um bloco, necessário para provocar um estimulo de formação altamente concentrado. Desenvolvimento consecutivo de muitas habilidades.
Taxionomia dos Mesociclos em Blocos
É formado por três tipos: acumulação, transmutação e realização.
No mesociclo de acumulação, as habilidades básicas são desenvolvidas, tais como: resistência aeróbia geral e aptidão cardiorrespiratória, força muscular e coordenação básica. É caracterizado por grandes volumes e intensidades reduzidas, com duração variando entre 2 e 6 semanas.
O segundo tipo, transmutação, tem seu foco em habilidades específicas de cada esporte como: resistências especiais (aeróbia-anaeróbia), resistência de força, técnicas e táticas adequadas. É o período mais exaustivo do treinamento e dura em torno de 2 a 4 semanas.
O mesociclo de realização destina-se a restaurar os atletas e prepará-los para a próxima competição. Ele contém exercícios para modelar o desempenho competitivo e um programa específico para uma rápida recuperação ativa. Varia de 8 a 15 dias.
Assim, a duração total de um estágio de treinamento varia de 5 a 10 semanas, dependendo da frequência de competições e das especificidades do esporte.
Referências
ISSURIN, V. B. New horizons for the methodology and physiology of training periodization. Sports medicine (Auckland, N.Z.), v. 40, n. 3, p. 189–206, 2010.